Elas mandam no consumo, mas ainda não são representadas como deveriam no sistema de defesa


RIO — No controle de 70% do gasto mundial dos consumidores, segundo dados do Boston Consulting Group, as mulheres exercem um papel fundamental no movimento em defesa dos direitos desses cidadãos mundo afora. No Brasil, o movimento das donas de casas teve importância decisiva na luta por direitos antes mesmo da promulgação do Código de Defesa do Consumidor (CDC) e atualmente é de uma mulher a titularidade da Secretaria Nacional de Defesa do Consumidor, do Ministério da Justiça. Mas esse poder de compra não se reflete, na mesma proporção, na ocupação de cargos de liderança. As deturpações que encontramos no mundo corporativo, em que elas ocupam apenas um em cada cinco cargos executivos, se repetem no mundo consumerista. A afirmação é de Marilena Lazzarini, uma das mais proeminentes representantes brasileiras no tema, presidente emérita da Consumers International (CI) e presidente do conselho do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), que chama a reflexão na data que se comemora o Dia Internacional da Mulher.
— Quanto maiores e mais estruturadas as organizações, maior é a tendência de a mulher perder essa posição de liderança e isso não acontece só no Brasil. É uma questão cultural e bem real, infelizmente. Hoje na Consumers International, apesar da presidência ser de uma mulher, os representantes masculinos ainda são a grande maioria — afirma Marilena.
Por outro lado, a mudança na família, com a maior participação dos homens na rotina da casa, não tirou da mulher o protagonismo nas decisões sobre a saúde, a alimentação e administração da economia doméstica, destaca a especialista. Além disso, Marilena ressalta a importância da mulher na educação para a cidadania e para o consumo consciente:
— Tudo isso faz com que a mulher tenha uma conexão forte com a defesa do consumidor e lhe dá legitimidade para tratar dessas questões, o que é reconhecido inclusive quanto participamos de audiência com alto escalão do governo e de empresas. Ao longo dos anos, essa paixão da mulher pelo tema vem sendo aliada ao preparo técnico e ao esforço de profissionalização.
Primeira secretária Nacional da Defesa do Consumidor, a paulista Juliana Pereira, se enquadra perfeitamente no perfil traçado por Marilena de paixão, aliada a profissionalismo. Com quase duas décadas de dedicação ao tema, Juliana reforça a atuação histórica das mulheres em diferentes frentes do sistema de defesa do consumidor:
— As mulheres estão na liderança de Procons, são promotoras de Justiça, procuradoras da república, defensoras públicas. Devemos destacar uma mulher brasileira, a Marilena que preside a maior associação da sociedade civil do mundo, a CI. Enfim, trata-se de um trabalho sério, competente e de liderança. A mulher é sempre muito consciente e comprometida com suas causas, espero ter cada mais mulheres atuando na defesa dos direitos dos consumidores seja no sistema de defesa seja no dia a dia como consumidoras.
Para Juliana, o cargo que ocupa é, ao mesmo tempo, uma honra e um grande desafio:
— É uma imensa responsabilidade, pois os desafios são muitos. Vivemos um momento de aumento de consumo e tenho trabalhado muito para que o acesso seja cada dia mais de qualidade e que nossos consumidores sejam respeitados, melhor atendidos e que tenhamos no Brasil um excelente standart nas relações de consumo.
Para Helen McCaullum, diretora-geral da Consumers International, as mulheres são a cara visível do movimento:
— As mulheres estão em lugar destacado na identificação dos efeitos de produtos pouco seguros e do acesso insuficiente aos serviços básicos. Elas atuam como um sistema de alerta que avisa quando algo vai muito mal. Uma proteção eficaz dos consumidores passa pelo empoderamento das mulheres, a criação de vias para que elas possam resolver os problemas antes que eles se transformem em uma ameaça para o resto da população.
Onica Makwakwa, diretora da CI na África, vai mais além:
— Na medida em que aumenta interação das mulheres com o mercado, superando a participação dos homens, é lógico que elas comecem também a buscar formas de fazer a sua voz ser ouvida na defesa de seus direitos como consumidoras. Esta tendência pode significar que no futuro as mulheres definam as condições para empresas e governos.


Fonte: O globo

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