Aumenta o número de mulheres empreendedoras no Brasil

São Paulo - Em Gertrudes Pede um Conselho, conto de Clarice Lispector, Tuda, a protagonista, recorre a um médico na tentativa de encontrar uma perspectiva para algo grandioso em sua vida: "Vim perguntar o que faço de mim", ela diz.  

"Quero saber como mostrar ao mundo que sou uma alguém, uma extraordinária." Diante da explosão de vitalidade, o doutor responde apenas: "Não se preocupe. Não é preciso fazer nada. Isso passa".  
O conto foi escrito em 1941. Nas últimas décadas, um número cada vez maior de brasileiras está realizando o desejo de Tuda — e fazendo coisas extraordinárias. Elas conquistaram independência, avançaram no mercado de trabalho e subiram degraus na carreira e na política. Nos últimos tempos, têm avançado num território que num passado não muito distante era dos homens — o empreendedorismo. 
Desde 2007, 10 milhões de mulheres abri­ram seu próprio negócio no país. Elas já são metade dos empreendedores brasileiros — as mulheres eram 29% em 2001, segundo a Global Entrepreneurship Monitor, pesquisa que mapeia a atividade empreendedora em mais de 60 países. O que mudou de lá para cá? Muita coisa — a começar pelas razões que as estão levando a empreender.
Em 2001, segundo o estudo, 58% das mulheres disseram ter aberto um negócio próprio porque tinham enxergado uma oportunidade no mercado — e não pela necessidade de ter uma fonte de renda. Em 2011, agarrar uma oportunidade foi o estímulo para 69% das mulheres ouvidas pela Global Entrepreneurship Monitor. 
Duas dessas mulheres são as sócias Luciana Guimarães, de 36 anos, e Vanessa Vasquez, de 39, donas da empresa paulista Íntegra Medical, que presta assistência a pacientes que tomam medicamentos de uso contínuo para controlar problemas como hipertensão e diabetes e tratar doenças graves, como câncer e Parkinson. As duas trabalhavam numa distribuidora de remédios.
"Percebíamos que poucos executivos dos laboratórios conheciam direito o comportamento do consumidor final", diz Luciana. Em 2005, elas deixaram seus empregos para abrir a Íntegra Medical. De 2009 para cá, a empresa vem crescendo 25% ao ano — no ano passado, seu faturamento alcançou 10 milhões de reais. 
As receitas vêm principalmente de grandes laboratórios, como Novartis e Roche, que oferecem os serviços da Íntegra Medical gratuitamente a doentes crônicos que fazem uso contínuo de determinados medicamentos. Para ter acesso aos serviços, o usuário só precisa se cadastrar na Íntegra Medical fornecendo uma senha informada pelo médico.
O atendimento da Íntegra Medical é feito via telefone, internet ou pessoalmente por uma equipe formada por enfermeiros, médicos, nutricionistas e psicólogos. "Há muitas dúvidas sobre armazenagem de produtos e efeitos colaterais", diz Vanessa. "Mas há também casos de pessoas que ligam aborrecidas, apenas para conversar." 
Durante os períodos em que os pacientes recebem auxílio, a Íntegra Medical fornece aos laboratórios relatórios detalhados com o número de atendimentos, as dúvidas mais frequentes e o nível de êxito no tratamento. "Esses dados são importantes para que possamos acompanhar o desempenho dos produtos e desenvolver estratégias comerciais", diz Wagner Luna, gerente de produtos do laboratório suíço Actelion.
Fonte: Revista Exame

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